10.12.13

...Eu sem você...

Não queria estar aqui neste luto precoce. Daqui deste oceano de lágrimas doridas a tua menina ainda avista a forte luz do teu farol, da minha terra firme.
Como o homem que tu me fizeste poderá olhar para frente com a tua ausência no horizonte? Não se vá... ainda não estou pronta para navegar sem a tua referencia, talvez eu nunca esteja...talvez eu nunca chegue a lugar nenhum, mas saber que estás aí me dá coragem para ir adiante...
Sinto-me tão egoísta e estou tão frágil que os mistérios passam a ser temores, perco a coragem...
Quem me incentivará a novas conquistas, quem comemorará comigo os meus sucessos? Quem me ensinará a aprender com meus fracassos...que sorrirá comigo minhas alegrias? Quem me verá forte mesmo quando estou com os joelhos esfolados?
Paizinho, você me ensinou a enfrentar a vida me ensinou que os desafios são o frisson que impulsionam, me ensinou a procurar os monstros em baixo da cama e a desafiá-los...só não me ensinou a viver sem o calor do teu sorriso, sem o aconchego do teu colo...não se vá ainda!
A idéia desta solidão sem meu consentimento faz com que tudo perca o sentido...

Estou com medo de ser eu sem você...

2.12.13

...Toques...

O tempo e sua pressa...
Não te alcançou...
Não me esperou...
Foi naquele alvorecer,
Naquele florescer...
Fez-se estrada de um mundo fora de mim...
Por vezes no banjo,
tantas  outras na gaita...
Eu escutei,
não por ter bons ouvidos,
mas,

por ter permitido ser tocada infinitas vezes...

24.11.13

...Paisagem...

Parada. Não que estivessem sem movimento, mas inerte, hibernada nos meus musgos no meio da praça, no rumo de tantas pessoas, mesmo assim sem nenhuma direção.
As reticências me contornam perfilando bordados e eu desejando parar de pensar no que veio antes de mim. Queria poder assinar este divórcio com as dúvidas, sem mágoas, sem dores e poder sair arrastando esta mala entulhada de vazios pelas calçadas, como se levasse flores ao túmulo de um velho conhecido, uma despedida saudosa apenas, render minhas homenagens e partir sem remorsos.

Mas, o tempo me acorrenta e me cobre com este manto da invisibilidade. Os sorrisos ecoam, os transeuntes sedimentam minha estrada e parece que só os pombos enxergam de verdade a minha paisagem.

14.11.13

...Detalhes...

Há uma grandeza, também, nas miúdas atitudes de contemplação cotidiana. Imagens gestadas no canto dos olhos e paridas na aridez dos lábios evaporando sussurros.

Imitação forjada pelas frases ventias que inspiraram uma poesia de amor, onde a dor arrancada pela raiz já não existe, mas o vazio completa o solo, compõe a música e eterniza a solidão guardada no fundo do olhar como premio e castigo, como fonte perene dos detalhes que vertem submergindo, diluídos, no gotejamento os dias.

5.11.13

...Insustentável...

Em mim multiplica-se o insustentável,
o ser diletante que ora despreza as sombras,
ora faz-se etéreo.
Quase imperceptível,
quase um silencioso  atlas,
suportando o exagero das suas dores sobre os ombros,
como se não fossem suas,
mas de todos,
e por todos,
preste a desprender-se como uma nuvem carregada de raios,
ou uma estrela cadente,
ousada flecha que se lança na atmosfera,

só pelo prazer da efemeridade da luz!

27.10.13

...Versão Dadaísta...


Dias sombrios não fazem florescer, nem respostas sem endereço me alimentam. Feneço por entre as folhas caídas, escondida do sol num propósito sem propósitos, colecionando luas e desenhando estrelas mortas, eu sei...
Deixei-me ser moldada pelos desalmados dedos do destino, misturada numa arte tão imprópria, tão dadaísta quando me toca a pele e me descasca fogo e sangue, que nem mais me reconheço...
Cheguei ao final, ao fim dos começos, e não achei o principio do fim...
Talvez ele não exista,
Talvez nem eu exista...
Talvez tudo isso seja a importante resposta de que eu possa ser reinventada pelos caminhos da saída e finalmente encontre o meu novo molde, e este calor seja a forja e a chave...

26.10.13

...Semente...

Ainda vejo aqui nestas paredes a tinta do nosso suor. Azulejos delatores de felicidade e solidão sempre brilhantes como teu sorriso. Ainda escuto os teus passos percorrendo o pequeno espaço que nos apartava, como se pudesse reproduzir o roçar da tua barba na minha pele. São tantos dias inundados de noites insones e chuvas de verão com cheiro de eternidade. Passeio os olhos pelos vãos da tua ausência e o gato, atento e ciumento, espera o momento da minha distração para desenterrar do vaso a semente que plantei na esperança de que um dia flores desabrochem e eu possa novamente, me vestir e sair de casa. 

21.10.13

...Herança...

Ainda há poesia em permanecer em silêncio, se o único idioma que hoje reconheço, são as lembranças guardadas no abismo das sensações dos teus dedos úmidos de desejo; grafitando meu corpo como palavras soltas, morfologia entre vírgulas entrelaçando emoções, transpirando nas minhas curvas e cavas, o passado como tinteiro de uma poesia que transcendeu.
Sinto tanto sua falta, que já nem me lembro de como eu era sem você, como se não mais me pertencesse, como um testamento sem herdeiros...
 Embora isso não te confira o direito de posse, há coisas que estão à revelia do nosso querer, do nosso poder...

Ainda existem imagens que me lembram todos os dias o abismo que cunhaste entre nós, e faço disso também poesia...

14.10.13

...Autofagismo...

Ainda estou aqui, com um impulso involuntário de um coração, que desobedecendo a encouraçada razão, sangra sem poder escoar. Um autofagismo  que alimenta este incoerente desejo. Não há saídas, nem luz, nem um sinal de fumaça, nem um pombo correio, nem um derradeiro raio que me parta e faça com esta saudade se afaste de mim.  Aqui neste solitário oasis, adormeço nas lembranças do teu cheiro, banho-me no sabor da saliva com teu gosto, aqueço-me no calor da tua respiração. São estas páginas nuas que me encobrem como um sudário, copiando marcas profundas que perpetuam a falta que me fazes. Passaporte da minha alma errante, petulante e vaidosa que vaga sem esperança, sem nenhuma certeza, como se tudo não tivesse passado de um mero sonho...do qual não consigo e nem quero acordar...

8.10.13

...Dormência...

Parece o gemer do último dormente em despedida quando abro aquela porta. Um pacto entre estrelas que resolveram se chocar no mesmo instante em que cedi ao cansaço e fechei os olhos. 
Cansaço. Foi assim que cheguei e me joguei no sofá. Não queria falar, mas comecei a narrar tudo que estava lá fora, com uma calma que também não era minha. Uma tentativa de expressar o que não encontro em palavra para definir, os meus dias que se amontoam, uns sobre os outros de forma bem regular, parecendo querer me provar alguma coisa.
Mais um dia em que desordeno tudo na esperança de amanha poder organizar melhor.
Estou com os pensamentos encilhados, sitiados na masmorra de Dante, quem dera fosse a minha hora chegada e assim poderia escrever minhas últimas linhas. Talvez eu fizesse um testamento, ou uma carta para aquela pessoa que precisava saber de umas verdades, ou quem sabe escrevesse o que nunca soube escrever...um poema de amor.
Ok, por onde começo?
E começo a chorar...
Essas sessões estão me matando, ou quem sabe, me ressuscitando...


6.10.13

...Desatinos...

Já provei do improvável e sobrevivi à fúria e as delícias das quimeras. Aprendi sobre a mitologia enfurecendo deuses e sendo arrastada pelos cabelos para fora do olimpo. Desobedeci à maioria das regras, para criar outras que também nunca pretendi cumprir. Rastejei até soltar a pele, por terem me dito, que me vestia de um pecado original. Contracenei com a noite sem estrelas por ser a única cadente. Embora ainda não tenha me recuperado do tombo, calibro os olhos para enfrentar os desatinos do dia-a-dia, fazendo de conta que tudo isso é absurdamente normal...


27.9.13

...Salamandra...

Perto do fogo...
Estou dentro do olho dos furacões...
Derretendo em lavas de mil vulcões...
Porque a vida só é dura pra quem tem medo...
Medo de se arriscar...
Medo de se queimar...
Medo de cair um céu de raios...
Medo do ralhar dos trovões...
É perto do fogo que eu me quero...
E que te quero...

Também!

21.9.13

...Remendos...


Sobre a chuva
Coleciono o orvalho nos meus olhos. Lava o pátio e o porão, como se depois, tudo pudesse ser de novo e é bem certo que seja uma temporada passageira; e algumas vezes até mesmo inconveniente, chove torrencialmente e eu espiando através da janela contendo a alma com vontade de se encharcar!

Sobre o frio e os dias de sol
Não me deixa alvorecer, cheiro cortante de inverno invadindo as narinas, uma visita ao meu inferno particular, frio e úmido. Raspo com as pálpebras as gotas que ficam presas nas paredes, no céu, nas nuvens, nas beiras, no bafejo das nuvens cinzas.
Confesso, não é o sol que quero na pele, senão, o calor do teu olhar.
Faço sempre outono no meu quintal, arremesso as folhas com teu nome rabiscadas ao vento, despetalo as flores buscando o teu bem querer.
Faço a primavera na minha pele sentindo a alma trêmula com desejo de ficar encharcada de nós.

Sobre o tempo 
Escavo com as unhas a espádua íngreme do tempo como sobrevivente de uma avalanche. Ergo as anáguas como se fosse o verão rendendo suas últimas flores ao outono.
Inverno, depois de usar a lâmina de descascar esquecimentos em todas as fantasias.
Ah esta mania de remendar odes como se fosse chegar ao final de todos os tempos, travando esta muda comunicação entre o coração e a razão, artifícios em vão.

Sobre todas as coisas
Aqueço nuvens quantas vezes os meus olhos desejarem se banhar. Chovo desafiando a noite, o tempo, as coisas que foram, as que virão...
Só porque aprendi que regar o nosso amor ao luar é nunca estar sozinha.
Santa e inquisitória saudade!
És tu a lama que me reveste, depositário que minh’alma elegeu habitar...

Te amarei até o fim dos meus dias e isso, de verdade, não é uma promessa!

19.9.13

...Só mais uma taça de solidão...

Perdi a coragem junto com a vergonha, ambas estão soltas por aí quebrando esquinas, fazendo versos, embriagadas de tristezas.
No principio eram só traços. Desmoronava meus conceitos, mas me defendia de mim. Depois se fez papel. Elegeu-me sua agressora favorita, mas não se furtou de voar comigo. Encadernou-se com os cadarços do meu tênis mais velho e saiu sem me dizer onde ia. Fez-me provar da ausência sua mais doce saudade, seu mais amargo desprezo. Magoada e sombria necessitei de luz e calor ateando fogo  nos rascunhos com aquele último palito riscado. Ardeu até e principalmente em mim, no momento que quis apagar as chamas, mas não existiam mais lágrimas. Ainda sinto o cheiro da tua carne ardendo e escuto os versos gemendo entre meus lençóis guardados no fundo da gaveta.

Hoje bebo a última garrafa de vinho da despensa em nossa homenagem, quem sabe assim, alguém venha me fazer companhia...

13.9.13

...Sem...

Há momentos sem pés nem cabeça...
Sem cor nem cheiro...
Como uma música sem notas...
Sai sem tocar...
Sai me tocando...
Sai...
Sem querer ser notada...

Há momentos sem cabeça...
Feito desenho na palma mão que se desfaz no chuveiro...
Lembra que desenhei meu coração?

Há momentos sem...
Sem eu...
Sem você...
Um cômodo esvaziado e sem cortinas...
Uma janela escancarada para a terra dos gigantes...
Lá fora bocas enormes prontas a nos engolir...

Há momentos sem pés...
Todos os sentidos adormecidos...
Como se o sonho nunca tivesse que terminar...


Não é de propósito que ando nas nuvens!

10.9.13

...Desejo...

Guardo na gaveta o relógio e o tempo. Forçosamente a vida me faz medi-la pelas escusas, pelos cantos escuros que ainda pretendo enfocar, pelo que evoquei sem métodos e pelo que visceralmente me encharcou.
Não me preocupo mais se ainda há tempo de descrever outros pontos, nem se vou retomar aqueles que abandonei ao longo do caminho. Tudo fica enquadrado agora, nos limites da minha caixa mágica de desenhar imagens. Percebo que enquanto eu me mantenho singular, a vida é tão plural e difícil de ser registrada na sua plenitude.
Intervalos do início ao fim estou sempre pendurada no meio, presa por um fio que ameaça arrebentar a qualquer momento e nunca me encontrarei com a hora certa...
Sempre estarei à mercê das incertezas tentando atribuir valores ao que, por ventura, consegui deter com as mãos abertas...
Mas é fato, que também o que fica, é só o que realmente consegue manter-se livre e sobrevivente no vento forte do meu caos...
Já não desejo que tenha tanta calma comigo e nem que me compreenda...

Mas desejo que esteja presente na precisa hora de reabrir minhas gavetas para a eternidade...

11.8.13

...Recolhimento...

Desce raspando pela garganta...
Tal qual alpinista no Everest esse choro contido...
Derreado como entremeios de uma vida desarrumada...
Bordado sutil que vai escoando...
Frio e úmido terreno...
Alimento insosso servido num prato raso...
Solidão...
Nunca alimenta nem amanhece...
Jaz em mim dias sombrios...
Desfiguradas lembranças...
Cadência das horas...
Trânsito congestionado...
Barreiras do tempo...

Não consigo fechar meus olhos anoitecidos que ainda orvalham...

4.8.13

...Sim...Eu tenho um Anjo...



Sonhei que estava perguntando ao vento...
Ao cheiro da chuva...
Ao brilho das estrelas em minhas mãos...
Anjos existem?
O dia raiou...
E me desenhou no horizonte a silhueta de um gigante...
Despertei sentindo no céu da minha boca...
Nuvens de algodão se desmanchando...
Retoquei com a língua os lábios recém adocicados...
Lânguida pude ainda apalpar em baixo da blusa a maciez da pele...
Como se os poros tivessem sidos arados...
Ainda orvalhando em cheiro de flor...
Agora, com os olhos bem abertos e sorridentes...
Constatei...
Sim, hoje os anjos existem...
Porque só hoje, eu necessito de um para mim!

30.7.13

Eu moro em mim mesmo” - Mário Quintana (1906 - 1994)



Neste dia festivo, talvez eu precise de um Espelho Mágico...
Só para ter o prazer de te abraçar e te falar, em forma de Poesia, que hoje eu também estou aprendendo a fazer Canções, e não quero nunca deixar de ser Um Aprendiz de Feiticeiro; e que, desde o dia quando ainda criança, encontrei tua criança, criei asas e só coloquei os pés no chão, para caminhar com meu Sapato Florido na Rua dos Cataventos!
Grandes planícies descortinei através dos seus olhos miúdos e estou aqui em plena ebulição  nos Preparativos de Viagem, essa que sempre faço contigo, quando decides levar-me nos Esconderijos do Tempo...
Sabes...eu que nunca fui boa com datas, sempre perdida e creio que talvez um benefício, só assim pude faltar ao teu velório...mas soube que foi um Velório Sem Defunto...
Mas isso não é lá grande novidade! Como mesmo tu disseste:
“Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!”

Hoje é aniversário do Grande Mestre Mário Quintana, que se estivesse visível, completaria 107 anos!...mas...hoje veste A Cor do Invisível!

Parabéns Grande Poeta!

25.7.13

Delitos



Impaciente aguardo o tempo de ebulição, necessito mergulhar neste lago negro, único alicerce que sustenta meus vícios.
O frio bate no vidro da janela e nem espera o convite para entrar. Como se conhecesse toda a minha desproteção. Como se intimamente estivesse aqui dentro, há muito tempo num longo e intenso inverno. Estremeço sentindo o sangue correndo devagar, quase congelando, simulando pinceladas, colorindo meu olhar de orquídeas solitárias com esfumaço de insônia.
Passo a língua sobre os lábios ressequidos, fissura por onde toda esta frieza trafega sem calma.
A noite avança fervida no fundo da xícara, são esses momentos quentes que ainda me sustentam.
Sim, algo ainda me sustenta - meus vícios – mas poucos saberão decifrar o verdadeiro significado destes delitos.

[Sob o pseudônimo Lápis em ponta]
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...Sobre Imagens...

Informo que algumas imagens utilizadas aqui, não são da minha autoria, tendo sido em sua maioria, provenientes do google imagens. Ficando assim, à disposição dos seus respectivos autores, solicitarem a retirada a qualquer momento.

Fiéis escudeiros! Fàilte!