28.2.14

GÊNESE


Prostro-me diante do calor que expande por dentro, cavalgando um corcel despido de temor, labaredas que por onde passam me derretem. Quase líquida, escoo aqui e ali pelas bordas sem fronteiras e endureço na falta do fôlego.
Não espero a calma, não há pausa para os olhos dormentes que não descansam nem quando se fecham. Turbilhão de imagens que vão sendo erigidas e consumidas – autofagia de idéias que alimentam o próximo passo – cansaço e euforia em madrugadas que sangram a cidade pelo centro. Meu centro, meu olho de furacão luxuriante, prazeroso, meu derradeiro suspiro antes do amanhecer.
Dependência, voracidade, ausência, decisões imprecisas guiadas pela irreverência dão formas que sugerem a falta de habilidade. Derretem, desmontam, em algum momento meus dedos se encontram e como numa metamorfose espontânea dá-se a criação.
Poderiam ser até confortavelmente materno se eu pudesse ser a oferta.

Seria a minha vã esperança de algum dia poder valer todo esse fogo que carrego?

23.2.14

BANDEIRANTE


Poemizar...
Verter sensações,
Misturar emoções,
Destilar rimas, versos e tudo o mais que puder temperar.
Caldeirão fervente,
Quiça na beira de um vulcão,
Quiçá,
Boca a boca com o prazer.
Dizer o que não sabe, sabendo que ser,
Independe de estar.
Estar para além de um querer,
Sendo.
Desbravando o íntimo em tempos modernos,
Vir das entranhas com bandeiras fazendo entradas,
 Não sendo nada apesar de tudo,

Bandeirante de uma inquietude sem fim!

*Dedico estes rabiscos ao meu pupilo J. R. Messias, poeta que muito admiro e que a cada dia aprendo mais! 
Lembrando que pupilo aqui, não quer dizer aluno, mas aquele que me salta os olhos, pelo seu lirismo sempre tão generosamente belo!

Sempre sua!

Talvez eu nunca me salve...
Talvez eu nunca saiba de verdade se quero ser salva...
Mas tenho a precisa certeza que em qualquer uma das situações você sempre perdido...
comigo, estará!

17.2.14

BORBULHAS

Depois de desarrumar o sorriso no rosto, pensei ter visto minha face borbulhando na lua. Estava convicta de que aquela noite seria a derradeira e talvez tenha sido. Sorri, chorei, vibrei, abri e fechei os braços como um abraço eterno por todas as outras noites, por todos os incansáveis dias frios, por toda a mansidão que escondia as tormentas por dentro da menina, uma genuína rebeldia.
Cantarolei, dancei, experimentei a fúria e a mansidão como se beber do cálice da vida, fosse, ingerir uma iguaria rara num momento de muita fome. A avidez suplantou a calma e em nenhum momento consegui imaginar que estava tendo a chance, a chance única de me salvar de mim.
Era uma noite tão morna, tão negra, que poderia ter adormecido sob o convite dos sonhos.
Mas o tempo virou não sei se contra ou ao meu favor e amanheci sem saber em que pedaço do céu havia me encaixado.

Talvez não seja nem mesmo um mau céu, nem mesmo um bom inferno...

11.2.14

SEM RESPOSTA

E da tinta, extraídos suspiros molhados rolando entre as folhas, protagonistas de um cinema mudo. Ensaios de letras envelopadas suprimidas pelas margens das noites. Frases incompletas. Uma biblioteca secreta segregando recordações mofadas como nuvens que carregam raios sem trovões.
Eis o recôndito mar, profundo e bravio, esconderijo dos deuses, que excluídos, trocam suas vestes uns com os outros - rasgam-se e costuram-se, me cobrem de dúvidas e provocam no meu íntimo tormentas – Ah mar!
Por mais que abra meus olhos não enxergo o que me cerca e na tentativa de me perceber, encharco tudo ao meu redor com cores, traços escritos no meu rosto despidos de sentimento, de intimidade.
Temo que algum dia alguém ouse me perguntar - o que você quer?!?!

9.2.14

REDENÇÃO

Há muitos caminhos e apenas duas respostas:
SIM
ou 
NÃO.
Contudo,  
levar em definitivo 
ou 
trazer lentamente,
faz parte da indefinida paisagem que não nos pertence,
nem nos cabe escolher!



6.2.14

DERIVA

Como um rosário sendo desfiado entre mãos inexperientes, as contas, perderam-se na curva do exato terço e junto as lembranças que ameaçaram esmaecer sem nenhum remorso. Fiquei a ver navios. Definitivamente não era uma metodologia apropriada não ter todas as respostas, mas foi o método que encontrei para experimentar o [a]mar.

Se hoje me perguntar se estou disponível, lhe direi que estou à deriva e talvez lá, possa me encontrar.

4.2.14

PARADOXO



Dois dedos da cólera,
dois passos da saída para completar um álibi,
enquanto desenho  no meu reflexo sorrisos carnudos.
O vermelho mais vivo que eu,
espia as minhas intenções,
o decote ingênuo se aprofunda na carne procurando seu lugar.
A um que de festa nos pelos da nuca,
exibidamente perfumada e voraz,
sempre ansiando por segredos inconfessáveis.
Paradoxalmente,
estou em par,

saio na noite quente, derretendo junto com a imagem que fazem de mim.





(fase vermelha)

1.2.14

...Confidências...

Multiplico-me pelos caminhos entre passos lentos e corridas frenéticas. Vôo alto. Avisto distancias tingidas, lembranças borradas e o silêncio dos meus barulhos me confundem, me atormentam...me acalmam. Não há uma ordem apropriada para que eu descanse por nem um dia. Não há uma recusa nem uma aceitação e nem posso chamar isso de abismo...nem posso chamar isso de chão. 
Ávida prova de tudo. Me nego, me surpreendo, desejo mais e por vezes me esqueço de quem sou. Entrego-me como uma confissão, reverencio o meu passado para que não se perpetue o que já não sou...

Mutantes confidências que almejam, quiçá amanhã, um corpo para habitar...                 
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...Sobre Imagens...

Informo que algumas imagens utilizadas aqui, não são da minha autoria, tendo sido em sua maioria, provenientes do google imagens. Ficando assim, à disposição dos seus respectivos autores, solicitarem a retirada a qualquer momento.

Fiéis escudeiros! Fàilte!