Prostro-me diante do calor que expande por dentro, cavalgando um
corcel despido de temor, labaredas que por onde passam me derretem. Quase líquida,
escoo aqui e ali pelas bordas sem fronteiras e endureço na falta do fôlego.
Não espero a calma, não há pausa para os olhos dormentes que não
descansam nem quando se fecham. Turbilhão de imagens que vão sendo erigidas e consumidas
– autofagia de idéias que alimentam o próximo passo – cansaço e euforia em
madrugadas que sangram a cidade pelo centro. Meu centro, meu olho de furacão luxuriante,
prazeroso, meu derradeiro suspiro antes do amanhecer.
Dependência, voracidade, ausência, decisões imprecisas guiadas pela irreverência
dão formas que sugerem a falta de habilidade. Derretem, desmontam, em algum
momento meus dedos se encontram e como numa metamorfose espontânea dá-se a
criação.
Poderiam ser até confortavelmente materno se eu pudesse ser a oferta.
Seria a minha vã esperança de algum dia poder valer todo esse fogo que
carrego?