27.2.11

...Completando...."Espaço"...*

Por senti-lo tão perto o meu corpo despertou...
...o espaço se abriu e se confundiu...
EU e VOCÊ cobertos de nós...
...perdidos em nós...
...repletos de amor...
* Completando você em mim

Por Roberta Altino: Achei o maximo, Compartilhando!

Um dia da caça, outro do caçador.

O pobre rapaz, separado há uns cinco anos, confessou estar cansado da solidão. Não quer esperar muito tempo mais. Quer ter uma nova esposa. A velha, nem morto e nem em outra vida, apesar das ameaças que reinam sobre ele em certas vaticinações.
Bom, o único jeito foi apelar para um novo modo de conhecer pessoas. Antigamente, no tradicional "footing" , os namoros  assim eram encaminhados. Hoje, basta um moderno instrumento de comunicação, uma tecla "enter" e a conexão está feita.
Dessa maneira o pobre rapaz deu início à sua caça noturna. Com pouca insistência, apareceu na tela de seu netbook uma figura agradável, na mesma condição, querendo apenas uma noite aquecida e em boa companhia. Nada mais. Ele também achou ter encontrado a oportunidade de aquecer mais que o seu corpo, o seu espírito. 
O problema é que nessa situação não existia uma caça e sim dois caçadores. Os dois iludidos de que nesse encontro um se tornaria a presa do outro.
Apreciaram as fotos expostas de ambos e concordaram que seria apenas um momento. Dia e hora combinados na casa dela, o rapaz foi curioso e certo de sua posição.
Ao chegar na esquina pensou numa forma de se prevenir para não entrar numa roubada. Ligou de seu celular para a moça dizendo que ela podia ir para a varanda esperar por ele. Esse truque o beneficiaria a ver de longe se a figura correspondia à foto. Mas truques bons e eficientes são para mágicos de carteirinha. A casa da moça era exatamente na esquina em que ele estava estacionado. Logo, pois, ela o viu. Foi até seu carro sem que ele percebesse e deu alguns toques na janela intimando-o a entrar.
_ Olhe, você vai entrar e se comportar, bem, não é?  Acho que nesse primeiro encontro podemos assistir um pouco de TV e conversarmos.
Ele, assustado, tanto pelo toque repentino quanto pela aparência, que aliás não condizia com a da foto, não teve outra alternativa a não ser entrar e ir para o matadouro. Ele agora era a presa.
Pobre rapaz! Levado para o covil aparamentado convenientemente para o abatedouro, com ar condicionado, almofadas fofas e uma televisão para disfarçar o nervosismo constrangedor, foi iniciado no próprio sacrifício.
_ Apague a luz pelo menos, por favor. Pediu como se ainda tivesse algum poder de barganha.
Sobre os lençois macios a caçadora se entreteve com sua presa entre suas pernas entrelaçando-o sobre seu abdomen farto. Inutilmente ele tentou fugir do local, mas um longo e robusto braço o cercou retendo-o madrugada adentro.
Não conseguia parar de pensar nesse fiasco enquanto a moça dormia e roncava alto.
_ O que vim fazer mesmo aqui? Essa pergunta martelava sua cabeça e seu orgulho ferido de macho dominado.
O dia foi chegando, ele abatido e enfraquecido pela luta travada durante a noite, apelou pela sua liberdade.
A moça, concordou e o libertou, triste, por não concretizar seu último desejo. Dormir de conchinha. Mais essa e seria a morte do rapaz.
Assim, a aventura de caça findava deixando um enorme vazio nele.
Contudo, não era esse fracasso que o desanimaria de continuar em sua busca pelo par permanente. O surpreendente seria ele desistir negando sua coragem de caçador que por uma noite, infelizmente para ele, foi caça.
 

25.2.11

Carinhosamente Surrupiado...

Ela chega assim, em silencio e diz: Mochiiii...
Moça linda de "olhar gateado" que me ajudou a pensar que na vida devemos tentar: "Again", "Again","Again"...quantas vezes forem possível!
Com todo meu carinho, compartilho as reflexões de Isabel em Martha Medeiros!
A Voz Do Silêncio 
Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!
Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"
É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E  fala  alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem
(AD)
Voce encontra também aqui: http://apoesiaemnos.zip.net/

...INFINITO...*

Amo as Coisas...
As Pessoas...
Amos os Gestos...
Os Reflexos...
As Partituras...
Amo até as Caricaturas!

Amo os Versos...
E até os Anversos!

Amo as Brumas...
As estrelas...
...o Sol...
...a Lua...
E o Céu limpo...
Amo inclusive as Nuvens e seus Pincéis!

Amo a Brisa...
As Tempestades e as Ventanias...
Amo o Dia e a Noite...
E o encontro da Aurora com o Ocaso...
E sei...
Que nada é por acaso!

Amo os Rios e os caminhos que levam ao Mar...
E como Ele...
Permito-me Amar!

Amo EU e...
...VOCÊ...
... se puder...
...até o MEU Mundo se acabar!


*Dedico com todos os meus dengos e carinhos a quem me Ama.

24.2.11

...Dedo de moça...Conchinhas do Mar...O que vai dar?

Não me ame com loucura...
Os loucos babam...
Não são cônscios dos seus sentimentos...
Vivem dopados...
Delicio-me com mimos, surpresas, carinho, cumplicidade, respeito, tesão.

Não me ame como posse...
Não sou objeto, nem passo escritura...
Estarei livre ao seu lado...
Alcance-me com carinho de mãos que se estendem e felizes se cruzam.

Não me ame como ideal...
Aprecio as tuas idéias...mas, tenho as minhas próprias...
Compactuarei com nossos planos...mas "respiro" o movimento...
O Ser individual é o que nos aproxima...e mantém viva a chama do encantamento.

Não me ame com orgulho...
Quero sua admiração...
...enxergar-me na tua retina...
...poder sentir-me mapeada com emoção de Champollion...

Não são exigências...
...apenas desejos...

Na senda da existência...
...não busco a transformação do OURO...
...nem do OUTRO...
...mas sim...
...a magia em perpetuar o AMOR...

23.2.11

...Agora...


(*) “Mente ao meu coração”...
...e ele fingirá acreditar...

Se me disser o que preciso ouvir...
...no teu caderno...
...rabiscarei minhas verdades...

Dissimula sobre a minha pele os
girassóis de Van Gogh...
...e então...me estenderei na tua direção...

(*)Composição: Francisco Malfitano e Pandia Pires / Interpretação: Maria Rita

Também me encontra aqui: http://www.prefacio.net/index.php?view=detalhesartigo&codigo=1763

22.2.11

...Repudio Natural...

Vôo livre...
Alimento-me com o néctar que se oferece
em flor...
Descanso em ninho que arquiteto com o
desvelo de Deusa...
Releio Exupéry para ter a certeza do
que discordo...
Quero ser apenas admirada...
...nunca responsabilidade de outrem...
Só sei Ser assim...
e lhe pergunto: o que importa?
...se a minha frente...
...já não reconheço fronteiras...

Não te atormentes nobre Homem...
Fostes tu mesmo quem me deste cera
para maquinar minhas asas...
E me ensinaste a distancia segura que
deveria manter-me longe do Sol...
Anoitece...
...urge recolher-me...

... Caleidoscópio...

Há momentos que são meus...
...Únicos e verdadeiros...
Há momentos que sou...
...e outros que não estou...
Há momentos que não existo...
...e também não insisto...
Há momentos que quero...
...e me desespero...
Há momentos que faço...
...e neles...
...me disfarço...
E em fagulhas de instantes me reconstruo...
...ou tudo destruo...

18.2.11

...Por dentro do Templo...


                        E a noite sem estrelas
                        serenamente
                        se acende em raios de dia
                        invadindo o ambiente

                        E o silêncio aos poucos
                        se rompe
                        cedendo ao harpejos
                       que entoam seu nome

                        E as paredes nuas
                        em branco
                        vão sendo rabiscadas com versos coloridos
                        desenhos impregnados de sorrisos

                        E no chão
                        ladrilhos de cristal
                        ora iluminados
                        refletem o brilho de retinas cintilantes

                        E com toda reverência as portas abrem-se
                        ao novo tempo
                        que vem chegando
                        com cheiro
                        de quem veio sem pressa

17.2.11

...Em Um Canto Qualquer...


Em um canto qualquer...
Calei meu encanto de mulher...
Com o mais puro desencanto que não se quer...
Bebi meu pranto de colher...
Larguei as vestes pra quem quiser...
Escorrendo o suor do que não se quer...
Lavando a alma de qualquer mulher...

(*)
...
 
e quem despe a alma
 e  lava o suor das vestes
é a mesma
que bebe o pranto
 e  cala o desencanto
 com  o
 encanto de mulher
...


16.2.11

...Mundo...Animália...








"Os homens
sabem odiar,
as mulheres
sabem apenas detestar,
o que é muito pior."
(Henri de Regnier)

15.2.11

...de Mão em Mão...



Deixamo-nos embalar pelas ondas do Mar!
Deliciada com nosso poema rabiscado a tantas mãos...tantos olhares...
Esse  amálgama de pincéis, de idéias, “tintas”, em suportes que suportam a ousadia de artistas e amantes da arte...
(*) Se quiser saber mais

Agradeço a participação de todos, o apoio, o carinho...os versos...
Agradeço a dona da obra inspiradora por fazer parte dessa minha ousadia...
Eis a OBRA!


“Que a ARTE nos contagie e nos embale!
Cheiro de VIDA no ar!
Tal como as ondas do Mar...
...Ah, esse bailar de ondas que habitam em mim...essa imensidão que...me acalma e me inquieta...me revela e me disfarça...
Mar, velho Mar...ondas brancas, atrevidas...
No absoluto dessa amplidão indefinível...eu sonho...
O olhar do verso
Extraído, distraído
Nas,
Das ondas do mar...
Que cheiro tem o teu pincel quando pinta?
Que forma tem aquele pontinho que só eu vejo
Deve ser tinta...
Ah, que tolice querer reparar nas ondas do mar..
Do traço estou a um passo do verso
E no reverso te vejo
Do lado de cá
Pintando no mar...
Num instante ele se abre para que eu passe por entre suas vagas.
Eu as deixo levar-me.
Não impeço sua força de arrastar-me, ó mar,
mas me deixe navegar em ti...
...te espreito com devoção de amante...te respeito com olhos de filha...
E quando alguém fala em mar, a única coisa na qual consigo pensar,
é em você, Itapua.
Só em você.
A noite a lua vem... prateada a beijar-lo
e ele ... em sua imensidão de amor, deixa que
ela se deite sobre ele...
O mistério do Mar
com a Lua...
Me deixo levar, pelo embalo dos ventos, pelo calor dos tempos, sem rumo nem direção. Fazendo parte das tuas partes, que estão aqui e acolá, apenas, e a duras penas sem reclamar. E nessa imensidão de paradoxais surpresas - ora sutis, ora violentas – me entrego como naufrago esperançoso que se perde e se acha, nestas tuas Vagas, vagas, em deleituosos mergulhos de um fôlego só.”




Autores em ordem alfabética:
(Anonimo)

10.2.11

Já dancei essa dança...Coisas da minha terra em Sampa: VALE A PENA CONFERIR!

Companhia de dança oficial do estado da Bahia, o Balé Teatro Castro Alves (BTCA) dá início à sua temporada 2011, quando comemora seus 30 anos de fundação, com seis apresentações na capital paulista, a convite do SESC Vila Mariana São Paulo (Rua Pelotas, 141, Vila Mariana).
 Em cartaz, as novas coreografias do grupo, que estrearam em Salvador no ano passado: “À Flor da Pele”, de Ismael Ivo, dias 10 e 11 de fevereiro, às 21 horas; “A Quem Possa Interessar”, de Henrique Rodovalho, dias 12 e 13 fevereiro, também às 21 horas. E, ainda nos dias 11 e 13, às 15 horas, será apresentada a montagem “1POR1PRAUM”, criação do diretor artístico do BTCA, Jorge Vermelho, sob supervisão da coreógrafa Renata Melo.
Os ingressos custam R$ 24 (inteira), R$ 12 (usuários matriculados no SESC e dependentes, idosos e professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante) e R$ 6 (trabalhadores no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).

7.2.11

...Construindo POEMIX: Obra o MAR de Selma Jacob...

Queridos,
Em primeiro lugar quero agradecer.
Fique muito feliz que a minha idéia do POEMIX tenha sido acolhida, e a participação tenha sido um sucesso.
 Depois, explicar um pouco para quem não participou desde o inicio e queira participar. Passeando pelos blogs que sigo, me perco desfrutando de lindas poesias escritas, e no blog da Selma Jacob, deparei-me com a poesia desenhada...e fiquei pensando: poderia unir algumas expressões artísticas; artistas e pessoas que se dizem “comuns”, mas que nos alcançam a alma, vertendo todo sentimento.
Bem, pedi autorização à artista e divulguei a idéia.
Iniciamos uma votação, que foi bem interessante e me deixou com a certeza que esse novo projeto, não será o único.
Essa deliciosa interação também me afirma que podemos sim, fazer diferente, SEMPRE.
Estarei aberta a todas as sugestões para os próximos – artistas, modalidades, etc.

Abaixo o nosso “objeto” de inspiração, podemos iniciar: que seja com uma frase, uma palavra, que possamos construir uma poesia, inspirados na obra que juntos escolhemos.

Que a ARTE nos contagie e nos embale!

A regra é não ter regras: durante os 5 dias a seguir, podem ser postados quantas vezes quiserem.
Estamos livres para “soltar” o verbo, o sujeito, ser interjeição, ponto e virgula e até travessão, mas, nunca ponto final!

Quando terminarmos, estará disponível a todos que quiserem divulgar em seus blogs.

Cheiro de VIDA no ar!


Extraido do blog: http://pintandoseteoumeio.blogspot.com/

...

Há dias que são noites...
...e entre brumas nebulosas que envolvem a minha existencia, exponho todo o silencio e recolhimento de uma alma errante...

6.2.11

...RAZÃO X EMOÇÃO...

Complexidade...
A RAZÃO...
...cultivo uma dolorosa missão de tatuá-la n’alma...
...disfarçando com maestria a EMOÇÃO!
Traço meus caminhos em linhas retas...
...mas...
...com linhas curvas...
...cheia de atalhos e todos os becos com saídas...
...não posso retroceder...
A vida, ainda, me exige praticidade!
Contraditória missão!
Neste embate que mais parece matrix...
...restam-me as palavras...
...uso-as como válvula de escape...
...e nas entrelinhas...
...em profundas baforadas...
...respira e emoção...


5.2.11

Amigos são JÓIAS PRECIOSAS que uso diariamente para enfeitar o meu VIVER!

A emoção é tão grande que se chorar mais um pouco transbordarei todos os oceanos...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Para V. Cruz, uma poetisa !! (ou carinhosamente, Mochi!!!)


 
"Meu caro poeta,
Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola tracada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súditos de Ramsés II, ou para o próprio Ramsés, se fores palaciano. Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que existe é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos , aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? – perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: “eu vos trago a verdade”, enquanto o poeta, mais humildemente, se limita a dizer a cada um: “eu te trago a minha verdade.” E o poeta, quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócrifos!
Meu poeta, se estas linhas estão te aborrecendo é porque és poeta mesmo. Modéstia à parte, as disgressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando essas meninas dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: “O que é poesia? Por que se tornou poeta? Como escrevem os seus poemas?” A poesia é dessas coisas que a gente faz mas não diz.
A poesia é um fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta para te dizer como é que eles fazem. Só te posso dizer o que eu faço. Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre em qualquer parte, nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras. Por vezes uma rima até ajuda, com o inesperado da sua associação. (Em vez de associações de idéias, associações de imagem; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna.) Não lhes oponho trancas nem barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo (a falta de memória é uma bênção nestes casos). Vem logo o trabalho de corte, pois noto logo o que estava demais ou o que era falso. Coisas que pareciam tão bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema) tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema. Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com o cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação.
Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos 17 anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz: “Eu não te largarei até que me abençoes”. Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técninca dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.
Em todo caso, bem sabes que existe a métrica. Eu tive a vantagem de nascer numa época em que só se podia poetar dentro dos moldes clássicos. Era preciso ajustar as palavras naqueles moldes, obedecer àquelas rimas. Uma bela ginástica, meu poeta, que muitos de hoje acham ingenuamente desnecessária. Mas, da mesma forma que a gente primeiro aprendia nos cadernos de caligrafia para depois, com o tempo, adquirir uma letra própria, espelho grafológico da sua individualidade, eu na verdade te digo que só tem capacidade e moral para criar um ritmo livre quem for capaz de escrever um soneto clássico. Verás com o tempo que cada poema, aliás, impõe sua forma; uns, as canções, já vêm dançando, com as rimas de mãos dadas, outros, os dionisíacos (ou histriônicos, como queiras) até parecem aqualoucos. E um conselho, afinal: não cortes demais (um poema não é um esquema); eu próprio que tanto te recomendei a contenção, às vezes me distendo, me largo num poema que vai lá seguindo com os detritos, como um rio de enchente, e que me faz bem, porque o espreguiçamento é também uma ginástica. Desculpa se tudo isso é uma coisa óbvia; mas para muitos, que tu conheces, ainda não é; mostra-lhes, pois, estas linhas.
Agora, que poetas deves ler? Simplesmente os poetas de que gostares e eles assim te ajudarão a compreender-te, em vez de tu a eles. São os únicos que te convêm, pois cada um só gosta de quem se parece consigo. Já escrevi, e repito: o que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família.
Enfim, meu poeta, trabalhe, trabalhe em seus versos e em você mesmo e apareça-me daqui a vinte anos. Combinado?"
 
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...Sobre Imagens...

Informo que algumas imagens utilizadas aqui, não são da minha autoria, tendo sido em sua maioria, provenientes do google imagens. Ficando assim, à disposição dos seus respectivos autores, solicitarem a retirada a qualquer momento.

Fiéis escudeiros! Fàilte!