Prostro-me diante do calor que expande por dentro, cavalgando um
corcel despido de temor, labaredas que por onde passam me derretem. Quase líquida,
escoo aqui e ali pelas bordas sem fronteiras e endureço na falta do fôlego.
Não espero a calma, não há pausa para os olhos dormentes que não
descansam nem quando se fecham. Turbilhão de imagens que vão sendo erigidas e consumidas
– autofagia de idéias que alimentam o próximo passo – cansaço e euforia em
madrugadas que sangram a cidade pelo centro. Meu centro, meu olho de furacão luxuriante,
prazeroso, meu derradeiro suspiro antes do amanhecer.
Dependência, voracidade, ausência, decisões imprecisas guiadas pela irreverência
dão formas que sugerem a falta de habilidade. Derretem, desmontam, em algum
momento meus dedos se encontram e como numa metamorfose espontânea dá-se a
criação.
Poderiam ser até confortavelmente materno se eu pudesse ser a oferta.
Seria a minha vã esperança de algum dia poder valer todo esse fogo que
carrego?
10 comentários:
Tu és uma verdadeira Fênix, Val. Tens ainda uma grande vantagem: quando renasces, vens (nem Freud explica), mil vezes melhor.
Abraço!!
Sabe que muitas vezes duvido? Sabe, fiquei lendo seu comentário e pensei algo maluco: talvez eu seja apenas a combustão instantanea, aquela que devasta tudo, sem nada construir...rsrs
Afe que penso cada coisa!
Bjão Poeta!
V.
Efeito dos efervecentes eflúvios momescos(rs).
Falando sério, eu percebo nas tuas escritas esta óbvia inconstância, uma urgência, uma eterna necessidade de buscar respostas. Isso tá muito claro para qualquer um que se dedique a ler, com certo cuidado, o que escreves. E percebo também, que ano após ano a tua maneira de exprimir tuas indagações, tornam-se mais maturadas, mais sofisticadas, mais exigentes e com uma característica exemplar: sem a necessidade de ser quantitativa.
Apesar de escreveres, atualmente, de forma muito parecida como nos textos de 2010 ou 2011, mas nota-se uma maior maturidade e sofisticação em expor ideias. Gosto de comparar teus textos embora sejam saborosamente atemporais.
Beijos bela poetisa.
Poeta, que análise interessante!
Sabe que também senti isso? No princípio era uma espécie de "brainstorm", eu escrevia até três, quatro poesias pro dia...sei lá, acho que eu precisava colocar tudo pra fora de vez...enfim, hoje escrevo com mais calma, com mais fluidez...parece que fui me diluindo, embora fale das mesmas coisas...será que estou me esvaziando?
Mas quanto as respostas, isso é meu mesmo- sempre quero saber o princípio das coisas, de onde elas vieram, mesmo que não seja tão importante onde vão dar...rs
"....será que estou esvaziando?" Natural que não. Se me permite a comparação, no começo eras como um caudaloso, furioso e descontrolado rio, que não vê obstáculos para seguir em frente. Mas, com o passar do tempo, viu que só aquele caminho seria pouco pra tanta fúria e descontrole e então este terrível rio, passou a criar em suas margens, seus afluentes por onde passou a redirecionar tanto desejo e tensão e foi crescendo, crescendo e hoje é uma enorme bacia hidrográfica repleta de afluentes, poesia, conhecimento, paixões, memórias.
A sorte é que o aquecimento global não afeta esse rio Valéria Cruz.
Um beijo no coração.
Gostei do "brainstorme"
Sempre tão coerente nas suas observações...quando eu crescer quero ser assim...até lá, caminhos tortuosos das minhas incoerências...
Bjão Poeta!
V.
Senti-me dando aula de geografia sobre formação de bacias hidrográficas. A correlação até que ficou legal (rs).
Foi só uma visão hidrográfica que tenho do teu caudaloso jeito de ser.
Ósculos e mais Ósculos, linda.
Smack!
Caramba! Esqueci que ela, além de tudo, é poliglota até nos beijos.....
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