Escutou o soar do último toque, desceu a escada rolante e como uma flecha, projetou-se para dentro do vagão do metrô. Praticamente não, chocou-se literalmente como um morcego surdo em uma muralha de costas, que impediram que caísse. Rubra de vergonha pela sua traquinagem, viu que aos seus pés, estava um livro. Tal foi seu susto ao reconhecer a capa – era o “seu livro”!
Pegar um livro seu, escrito por ela era uma emoção que jamais conseguiria descrever. Os olhos sempre alagariam o que o coração não conseguia conter. E ao olhar ao redor, um par de lentes escuras a olhavam. Ela disfarçando a emoção então, perguntou:_É seu? E ele ajustando os óculos e equilibrando-se no surf do metro lhe respondeu: _ Sim, obrigado.
Era a primeira vez que estava assim, cara a ara com um leitor seu. Quando criara aquele pseudônimo, queria continuar no anonimato, ter a sua vida preservada, gostava de ser tantas e ser apenas ela. Imagina o descompasso do seu coração, era difícil não crer, que aquele barulho, fosse apenas do trem percorrendo as entranhas da cidade e não, do seu sangue correndo nas suas veias. Não perdendo a chance foi logo dizendo: _ Eu já li esse livro. E disparou: _ voce está gostando?
O trem para na estação mais movimentada, quase todos descem e eles foram sendo meio que levados pela “onda” humana. Conseguiram acomodar-se em um canto, enquanto outras tantas pessoas entravam apressadas, tanto quanto ela em extrair ao máximo do seu leitor.
Ela lhe olha, quase que arrancando sua resposta, estava certamente com olhar aflito e ele responde sorrindo meio tímido: _ sim, gostando muito. Estou quase terminando.
_Há alguma coisa que lhe chama atenção? Tipo assim-, consegue ver alguma mensagem subliminar?
_Olha, diz ele - o tema é muito interessante, comprei o livro pela curiosidade em saber como alguém discutiria o “Banquete” de Platão em um romance contemporâneo.
_ E o que achou da proposta, foi atingida? Perguntou ela, sentindo como se todas as suas vísceras estivessem ficado na estação anterior.
_ Foi uma proposta ousada, mas me surpreendeu – emendou sacudindo o livro no ar. Mas tenho uma teoria sobre o autor.
_Qual? Pergunta ela num fio de voz.
_ O autor certamente é uma mulher – disse ele, agora sorrindo olhando para a paisagem de concreto do túnel.
_ O que o fez chegar a essa conclusão?
_ Agora quero saber a sua opinião, voce também leu o livro - olhando-a fixamente.
_ Acho Platão um machista!
O sinal da próxima estação soou mais vezes que o habitual. Era seu despertador que tocava quase que a sacudindo da cama. Estava sonhando!
Levantou-se atordoada, fora só um sonho...voou para o chuveiro, estava mais uma vez atrasada, nem poderia degustar sua torrada como gostava, comia enquanto se arrumava, arrumava a bolsa e checava se havia comida suficiente para o gato. Saiu em passos largos para a estação, descendo a escada rolante correndo. Último sinal, voou para dentro do vagão antes que as portas se fechassem, chocou-se nos passageiros, viu o livro aos seus pés...
Abaixou para pega-lo com um sorriso nos lábios, hoje definitivamente chegaria atrasada no serviço.
Um comentário:
Invejo esse cara!!
Postar um comentário