Penso em novamente contar o tempo e sempre me perco distraída nas
recordações. Qual a referencia que devo tomar como início, em que momento eu
segui; quando foi que o tempo me deixou no vácuo desse vento, esse assovio que
me convida a fechar os olhos, assim, desprovida de sustos por saber o que vou ver.
Tropeço nas conchas espalhadas pelo caminho, recordações que envolvem
lágrimas e as guarda em si, sob uma casca rija e feia, desilusões acobertadas à
boca miúda, é certo que desembocarão no mar. Quem precisa delas, senão eu para medir o tamanho
de uma vida.
Deixo-me levar pelo caminho e mais uma vez me embrenho entre os arbustos obtusos e retorcidos que só guardam poeira e melancolia. Balançam escondendo as marcas que
fiz pensando em um dia retornar. Mas também não preciso delas. Trago na carne a divisa das ruínas da imponência, posso ouvir as pedras sendo empilhadas umas sobre as outras, o burburinho dos passos sobre
os tapetes, o cheiro da cera, carpideiras fiéis chorando nos candelabros. Aqui também muitos
sorrisos caiaram essas paredes, a felicidade um dia abanou as cortinas das janelas e o sol parecia ter encontrado o seu canto.
Mas nada disso mais importa. Os jacarés do
fosso, todos, se foram. A ponte ruiu e as correntes enferrujaram. Nada aqui é
mais novo que aquela orquídea que sobrevive floreando todo ano sem que ninguém
interfira.
Mais uma vez entendo que é inútil tentar contar, contabilizar. Entrelaço
os dedos ao destino que me sorri.
Falso ou não é o que me resta, enquanto a orquídea florescer...
9 comentários:
Gostaria de te dizer coisas, mas... outra hora... quanto sentimento...
As vezes chega a hora daquele Balanço de toda uma vida de tudo que construímos e sonhamos, equivocados, cheios de esperança, repleto da crença que um outro venha te completar, te compreender, te entender e, se não for para amar, pelo menos para te tolerar.
O bom é que nossos corações estão sempre bem fornidos da velha esperança, daquela chama frágil e crepitante mas que está lá, nos recônditos do coração, da alma, a nos mostrar como é maravilhoso arriscar, sofrer, seduzir, ser e fazer alguém feliz. Meu Deus!! a vida é uma dádiva, V.
Concordo plenamente! Tudo na vida é válido, todas as emoções possíveis devem e podem ser vivenciadas...leva-las para uma vida inteira pode ser apenas uma da opções...
Obrigada,
Bjão
V.
Teu discurso é tão fluente, como se não carregasse dúvidas, culpas ou preocupações em tua vida, como se todas as soluções de nossos traumas ou recalques, pudessem ser solucionados assim como alguém que vai ao supermercado e apanha nas gôndulas, as soluções para seus vazios existenciais.
As vezes fico levemente (só levemente) exasperado com esse seu lado "cool" de encontrar alternativas que pra ti parecem tão simples mas que pra mim são oceânicas, Andinas, "Himalaicas".
Reclamando?? muito pelo contrário. Ter acesso a esse teu mundo de ideias está propiciando a este sectário ser humano, encontrar tanta beleza, sentimento, verdades que estavam prescrito apenas ao meu recluso e anódino mundo. Como é bom te conhecer, sentir através dos meus olhos, o teu carinho e afago vindos das belas coisas que escreves que é indescritível.
Um beijo onde couber sua permissão.
Desculpe (só agora vi) o excesso de "soluções" no primeiro parágrafo.
Sabe Messias, nada para mim é fácil de verdade...mas faço das minhas dificuldades a minha força para prosseguir, cada vez mais empinada, mais rebelde, mais desafiadora...rs
Você não faz ideia meu caro de como é difícil...eu escrevo no pensador algumas frases, outro dia escrevi algo assim:
Sou o meu maior e o mais feroz inimigo...e por este motivo, todos os dias preciso me perdoar...
É por aí...
Bjão
V.
PS: o pensador se procurar VCruz pensador , aparece coleções pessoais, tem fragmentos de poesias que escrevo, frases que crio instantâneas, tem um universo...rs
E por acaso achas que dumo no ponto?? Já estive lá regojizando-me com suas pérolas.
"Perdoar". É o teu diferencial.
Percorrendo todos os caminhos...este é o melhor caminho...
Garoto esperto!rrs
Bjão
V.
Teus rastros poéticos são inconfundíveis, é só usar o coração para encontrá-los, além do que, por onde passas fica o teu delicioso perfume.
Um beijo.
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