Penso em novamente contar o tempo e sempre me perco distraída nas
recordações. Qual a referencia que devo tomar como início, em que momento eu
segui; quando foi que o tempo me deixou no vácuo desse vento, esse assovio que
me convida a fechar os olhos, assim, desprovida de sustos por saber o que vou ver.
Tropeço nas conchas espalhadas pelo caminho, recordações que envolvem
lágrimas e as guarda em si, sob uma casca rija e feia, desilusões acobertadas à
boca miúda, é certo que desembocarão no mar. Quem precisa delas, senão eu para medir o tamanho
de uma vida.
Deixo-me levar pelo caminho e mais uma vez me embrenho entre os arbustos obtusos e retorcidos que só guardam poeira e melancolia. Balançam escondendo as marcas que
fiz pensando em um dia retornar. Mas também não preciso delas. Trago na carne a divisa das ruínas da imponência, posso ouvir as pedras sendo empilhadas umas sobre as outras, o burburinho dos passos sobre
os tapetes, o cheiro da cera, carpideiras fiéis chorando nos candelabros. Aqui também muitos
sorrisos caiaram essas paredes, a felicidade um dia abanou as cortinas das janelas e o sol parecia ter encontrado o seu canto.
Mas nada disso mais importa. Os jacarés do
fosso, todos, se foram. A ponte ruiu e as correntes enferrujaram. Nada aqui é
mais novo que aquela orquídea que sobrevive floreando todo ano sem que ninguém
interfira.
Mais uma vez entendo que é inútil tentar contar, contabilizar. Entrelaço
os dedos ao destino que me sorri.
Falso ou não é o que me resta, enquanto a orquídea florescer...