29.5.12

Atalhos


Finalmente ela sentiu o vento fazendo festa nos seus cabelos, o sol impregnando a pele com um calor que lhe pareceu familiar. Viu-se mais uma vez sentada a beira daquela tão conhecida estrada, emaranhada naquela letargia, que a dominara por um tempo que não seria capaz de contar. 

Os olhos passearam pela paisagem, quase sem conseguir acompanhar a volúpia das pálpebras que, agora, debatiam-se diante de tantas possibilidades. O dia acordara resfolegando como um corcel indomável, um convite fascinante à cavalgada em pelo pela vida a fora...
De um salto ergueu-se, sacudindo o pó que ainda insistia impregnar-se na roupagem. Impaciente arrancou tudo de uma vez só, o momento exigia pele nova. Olhou pela última vez para o atalho que ficava às suas costas. Sorriu, um sorriso triste que só se oferece ao espelho, constatando que o colorido já havia esmaecido completamente. Não havia mais flores, morreram todos os girassóis. As folhas estalavam como um lamento, ressequidas. Veio-lhe a comprovação de que todos os becos tem saídas, pelos acordes da borracha do tempo intermitentemente trabalhando. Tudo que agora restava, eram os sulcos dos traços fortes que ficaram impressos naquela estradinha. 
Seus olhos embaçados piscaram pela última vez. Reluzentes agora, acompanhavam o corpo que se projetava em direção a um outro atalho, que lhe seduzia, um convite irrecusável a um lauto e delicioso café da manhã. Reconheceu-se faminta!

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