Amanheço. Por entre as dobras do ninho dos cobertores, travesseiros e lençóis, silenciosas mãos côncavas que me escondem como capa mágica da invisibilidade. Arranho por dentro o meu céu e ele, ainda, me sopra estrelas. Queria poder guardá-las na cadencia das horas em que me acho, mas, me perco.
Destranco a janela da alma e avisto os meus medos ao longe confabulando com o cinza do dia. E tudo se cala como uma silenciosa oração desenhada com baforadas no vidro. Meu corpo deságua raios e trovões, convulsão de um vulcão que quer expelir as sombras da caverna.
A neblina dissimula as carícias das mãos frias do medo.
Vou queimando por dentro e amontoando as cinzas em um canto, a espera que algum pássaro voe até a colina mais alta e espalhe o meu olhar inocentemente.
Encaminho-me com passos sonâmbulos como oferenda prestes ao sacrifício. De um lado, a solidão que estende a mão morna; do outro, a incerteza que escancara a sua voraz boca de abismo.
- Não quero mais ter medo de sentir medo!
Estendo os dedos como um cinzel pontiagudo e contorno, descolando, a face da solidão. Não saberei hoje dizer, se como o último ou o primeiro gesto, antes de anoitecer.
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