5.7.11

...Sobre a Mesa...(Parte I)

Atravessou a avenida sem perceber o seu desalinho. Barba por fazer, terno amassado, chapéu enterrado na cabeça e as mãos dentro do bolso, numa inútil tentativa de proteger-se do inverno, que tomava conta da sua alma. Assim ensimesmado, entrou na lojinha escondida de secos e molhados da ruela mal cheirosa. O lixo estava espalhado pela calçada, sinal de um abandono proposital. Sabia que só ali, encontraria o que procurava: a CURA.
Arthur estava no balcão como se já o esperasse. A muito não se viam, desde aquela última tarde em que chegara, quase nas mesmas condições, em busca da poção que o transformara nesse ser desprezível. Amigos de infância, cresceram juntos, na mesma rua e por motivos adversos separaram-se. Arthur, sempre fora uma criança diferente e um rapaz mais ainda, possuía dons de clarevidencia, que exacerbaram-se na puberdade e isso certamente o diferenciava dos rapazes “normais”. A sua loja, garantia o seu sustento, mas, dizia-se a boca pequena que era um bruxo e manipulava poções mágicas.
- Preciso de voce! Quase inaudível, disse no mesmo instante em que levantou os olhos e tirou o chapéu. Arthur, o encaminhou ao quartinho dos fundos da loja, sem dizer uma palavra. Acomodou-se em uma das cadeiras da mesa central e o viu sumiu entre as prateleiras.
Fora num impulso cego que chegara até ali. Desde que recebera a notícia de que ela estava sucumbindo, não dormira mais. Vagava nas noites insones pelas tabernas como um espectro. Enfim, cedendo a sua consciencia que ardia de remorso, decidiu. Mesmo estranhado a presença do remorso, havia abdicado dele, bebendo a poção do esquecimento; pagando o preço de ter os seus sentimentos extraídos para o preparo de um elixir: jamais amaria novamente. Mesmo sabendo de tudo isso, agora seu peito que imaginava inerte...ardia!
O retorno do amigo libera sua respiração, já não se importava com explicações, viera em busca de uma solução e sabia que ele, seria a única pessoa capaz de promove-la.
Sobre a mesa, Arthur depositou dois delicados e pequenos fracos, transparentes e sem rótulos, com liquidos de cores diferentes:
- Esse, mostrou o verde – traz a cura para a enfermidade física;
- Esse, mostrou o azul – traz a cura para a enfermidade da alma;
Mais uma vez, a escolha é sua. Os dois, contém o que extraímos de voce. Siga sua intuição e lhe ofereça o que ela precisa para se curar.
Olharam-se com olhos de última vez e partiu apressado, sem olhar para trás.
(continua)

5 comentários:

MA FERREIRA disse...

Poxa... vc me pegou d surpresa com o seu conto.
Muito criativo. Adorei.

Mas mais dificil que perdoar o outro é perdoar a si mesmo..
Acho que para sermos felizes temos que ter a consciencia que o passado ja se foi. Se agimos de tal jeito naquela época, era o jeito que achavamos que deveriamos agir.
hj é um novo dia e uma nova chance de recomeço.
Se perdoar é começar do zero..com a experiencia que dos erros e acerto que o nosso passado deixou.
Fazendo bem o hj..com certeza o futuro será de coisas boas.

bj

Ma

Isabel disse...

Gostei imensamente, como tudo o que vc escreve.. Qual dos frascos escolher ? Espero o proximo capitulo ansiosa.
beijuuu!!

Isabel**

V.Cruz disse...

Obrigada pela visita, pela reflexão...muito bom quando escrevemos algo que suscita reflexões!
bjss querida!

Belzinha! Estou “azeitando”...rs
Que bom que gostou parceira...e nosso dever de casa?(sem cobranças, ja viu que ando a fazer heim..rs)
Bjss adorooo tuuuumatiii

S.J disse...

Comecei a escrever sobre o que o escrito do poeta me remeteu: reflexão sobre o movimento de sua alma, do que se põs a pensar sobre tudo que o cerca. Em outro instante, me remeteu aos eternos amantes Romeu e Julieta, vida e morte, escolhas. No entanto, ao seguir os passos do poeta, me vi a pensar sobre o que colocamos na mesa de nossa vida, que se não são as escolhas de nossos proprios caminhos, sejam verdes ou azuis.
Querida Mochi, gostei muito, não sei se me fiz entender. Mas é isso ai.. caminho a seguir.
beijos

V.Cruz disse...

Querida amiga!
Gostoso ler a sua reflexão, nossas duvidas existencias que aos poucos vou pondo sobre a mesa num convite a degustação...não sei te dizer, se isso é poesia, acho mesmo que nunca fiz poesia, mas busco fazer da minha vida, uma...também, divago nesse rio da busca do amor...outro dia me disseram...vc busca um amor impossivel(rs), e eu já ouvi isso outras vezes...enfim...é ISSO...entendeu? Ah não? Não tem pobelema...talvez eu n seja pra se entender mesmo...seja penas para ser...sentida...e degustada...
Bjsss

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