14.5.13

Titãs


Esta não era a primeira vez que se olhavam nos olhos. Nem a primeira vez que faíscas saltavam das intenções veladas. Estavam confortavelmente instalados, ladeados pelo burburinho do restaurante, como se estivessem a sós. Agora nada os impediria. Mas ela permanecia inquieta, reticente, nervosa diante daquele homem que a fascinara desde o primeiro olhar, ao ponto de não saber ordenar os pensamentos. Ele mantinha uma voz baixa derreando nos seus ouvidos um agradável colóquio que como poesia, dialeto que lhe eriçava a pele - composição única dos ecos de madrugada que sua alma abrigava.
- Cheguei a crer que não aceitaria o meu convite – disse ele, depois de pousar a taça sobre a toalha alva da mesa, sem deixar de fita-la em nenhum momento.
Ela movimentou o corpo com a mesma languidez que piscou os olhos, sentindo o peso dos cílios ao encará-lo. Não pretendia mais disfarçar o desejo. Provavelmente já sob o efeito do vinho que fazia seu ser borbulhar - Talvez você precise me conhecer um pouco mais, não costumo ser insegura nem fugitiva – disse curvando os lábios num gracioso sorriso, antes de sentir o gosto do vinho aveludando sua língua.
- Me diga o que de fato aconteceu? Perguntou-lhe, baforando as palavras com uma boca que quase lhe tocava os dedos frios, capturados por uma mão grande e quente.
- Não aconteceu, acontece!
Endireitou-se ela e disparou sem titubear. Esmiuçou com delicadeza do primeiro aos últimos acontecimentos. Não poupou nenhum detalhe, nem escondeu seus sentimentos. Até o susto que levou ao vê-lo espreitando-a pela vitrine - como um lobo faminto antecedendo a captura da presa, nesta tarde - três meses depois do último encontro.
Nada, não deixou escapar nenhum detalhe, mesmo diante do olhar perplexo dele, mesmo diante das covinhas que se formavam em baixo da barba quando sorria, mesmo quando ele alisava seu pulso com o polegar ou apertava com mais força seus dedos.
Estava diante da encruzilhada, onde todos os caminhos a levariam a perdição, mas não estava mais disposta a ser uma estátua de sal!

4 comentários:

saborevida disse...

Leveza e precisão num belo discurso amoroso.

Autêntica V. disse...

Gostei muito do resultado também...alguns são meus preferidos...outros não gosto tanto...assim acontece...
Obrigada, bjão
V.

saborevida disse...

Falar de amor, seja por paixão ou por dor de cotovelo, emociona. Vivê-lo é fundamental, vital, carnal, incondicional ......
"You drive me crazy, baby"

Autêntica V. disse...

...nem todo amor pode ser vivenciado, mas pode ser vivido...
Bjão
V.

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