28.6.12

...Amanhã...


É tudo...
É essa pungência de vida que me prende à cadeira, emaranhando-me em mim como se fosse um bicho da seda a me fiar...
Desfiando-me...
Desafiando-me...
São momentos inapropriados de vida. Questiono a essência da existência e vou cavando com a ponta dos dedos esse poço que promete matar minha sede de vida, quiçá um dia ele realize meus desejos...
E então, eu lhe mostraria que no peito trago o desenho da rosa dos ventos, só para saber se a esperança, ao menos sabe, para onde eles foram.
Tudo passa sem deixar rastro nem pistas, onde me desencaixo e por mais que me desdobre...
Não desamarroto...

24.6.12

...Click!


Retoquei a maquiagem dos olhos num verde grafite de esperança...
Reforcei o batom para que não escorra nas bordas do sorriso...
Mudei o penteado de lado na esperança de não ser reconhecida...
Abotoei o casaco até em cima...
Guardei o decote com aquele lenço que um dia enxugamos minhas lágrimas...
Enterrei no fundo da boina todas as lembranças...
Apertei o cadarço das botas para que as asas possam correr mais soltas...
Abri a janela dos teus abraços e saltei...
Click!
Essa é a única imagem que preciso como registro...

22.6.12

...Entrega...


Estampado na face como um traço de pincel que saltou da paleta...
Fenda incicatrizável por onde escoa o que me vai n’alma...
Sorrisos...
Entreabertas janelas da mais escura das noites...
Encortinadas por pálpebras que suspiram em falsetes...
Cintilam o que não tencionei revelar...
Segredos...
Não adiantou afugentar-me por entre as pernas da coxia em penumbra...
O corpo explicita num cenário de frases para serem lidas em braile...
Desejos...
São rios de lavas multicoloridas que correm em direção ao [a]mar...
Vem...
No vão daquilo que nem a natural rebeldia consegue deter...
A entrega absoluta de todas que fui...
E de todas que em ti pretendo ser!

20.6.12

Presente


Há uma noite alta dentro de mim. E dizem que as noites são portais mágicos que nos elevam a condição de encantados. Poderia hoje querer brincar com o tempo. Voltar a ser criança, ir mais além da história. Mas hoje, aqui ouvindo o vento que já vem lá fora, prenunciando que na sua passagem, sempre alguma coisa leva - me adianto sujando as veste, as mãos, lambuzando meu cabelo e a sola dos pés, deixarei que os poros se embriaguem com essa poesia solitária.
Farei desse tinteiro negro, uma caixa de pandora em que mergulharei a alma para que transborde palavras como big bang em tempo de criação.
Serei sim, a pena fagueira e insistente que marca o papel em branco, borrões do nosso amor, como se estivéssemos aqui, agora, maculando a alvura dos lençóis com nossas sagradas luxúrias.
E quando o vento transpassar as cortinas dessa janela entreaberta que é o nosso passado, fará tremular mais uma vez sobre a mesa em que adormeço as linhas - curvas e traços paralelos - memória que lhe peço, leve, leve sim, mas não ouse tentar apaga-la! 

18.6.12

...Meio...

Poesia selecionada para a Edição Antológia Literária LITERATUS



Meio exagerados...
Compomo-nos em música para ser ouvida em braile...
Não sei dizer como tudo começou...
Entre nós não havia...
Um meio termo...
Um meio olhar...
Um meio [a]mar...
E em meio a tantos desejos...
Repartíamo-no ao meio...
Entrelaçávamo-nos meio sem começo nem fim...
Teu meio em meu meio...
Éramos o fio da meada que tranceteava a existência de nós...
E então tudo foi se desamarrando...
Os dias desfiando...
E nosso amor desalinhado definhando desafinado...
Ainda hoje...
Não sei onde começo...
Nem quando será em mim o teu fim ...

15.6.12

...Tesouro...



Sim...
Algum dia nos sentirmos incompletos...
E então...
O verbo amar se faz carne e rompe as barreiras do indescritível e se aninha no seu ventre...
E dia a dia voce sente seus movimentos se agigantando e exigente se faz oferece-lo ao mundo...
Então das suas entranhas voce oferece seu fruto...
O que há de mais humano em voce se faz a Mãe!
E todas as suas dores partem para um lugar onde tudo se transmuta...
E voce se sente Mulher...
Pronta para inclusive, se orgulhar de ter gerado, criado e participado da existência de um novo ser...
Aquele que sempre será o seu elo de ligação com a sua capacidade de ser divinamente completa!

12.6.12

...Hoje...e Sempre...


Hoje queria mirar-me no teu espelho...
E...
Ser para ti o batom a colorir a tua boca com beijos...
O vento a desalinhar tua sensatez...
Impregnar a noite de uivos de lua...
Mas...
Hoje o céu deságua meus olhos...
Para que o mar retempere o sabor das minhas lágrimas...
E assim a terra absorva meu perfume para suas profundezas...
E aí...
Nesse tão longe lugar de para sempre...
Me sintas como um sorvo quente...
A te flertar as narinas...
Embebedando a ressecada garganta da distancia...

Feliz “nosso” para sempre dia dos namorados!

...Retirante...




Retiro minhas pegadas desse caminho.
Que o tempo construa seus diques com os sulcos que deixei...
E as pedras ergam totens em minha homenagem...
Que as flores a cada dia exalem um perfume diferente...
Pois...
Para ser tantas a cada amanhecer...
Fui dama em cada noite...
Que as estrelas reflitam o brilho dos meus olhos...
E o luar ofereça
Todas as suas despudoradas faces...
E todas as vezes que o sol nascer...
Um girassol estenda suas pétalas em reverência a minha insistência...
Pois, foi na fúria dos olhos dos furacões...
Nas vagas de um [a]mar transpassado de infinito...
Que fiz dos vendavais brisas mornas...
E mesmo na escuridão...
Colori
com versos retirantes minhas páginas
em branco...

10.6.12

...Silêncio do vento...


Há no vento um silêncio que me desconforta...
Perfila-me os contornos como se fossem dedos...
Toca-me com uma suavidade gélida de quem veio para uma visita longa...
Sussurra-me segredos inconfessáveis...
Cobre lacunas gastas pelo tempo...
Desvenda os vales das tormentas de uma intimidade que emparedei por anos a fio...
Há um que de desafio que ora me esconde...
Ora me revela...
Imagens destoantes de tudo que já provei...
Alimentando aos bocados boca a boca...
A alma que desperta em desalinho!

6.6.12

...E mesmo que não haja amanhã...


Tenho uma alma romântica e um coração prolixo...
Emaranhados nos meus dias que me enovelam em sensações vertiginosas que ora me confundem...
Ora me despertam...
Tudo se agiganta e se encolhe em medidas descompensadas...
Um juízo que se diluí no caldeirão do meu querer...
E mesmo que não haja um amanhã...
Vôo de olhos fechados em direção ao prazer de querer bem quem nunca imaginei ser!

5.6.12

Passagem Secreta


A tarde fora trazida em um alçapão. Uma passagem secreta. Um portal à morada dos deuses?!?
Sentia-se como se estivesse sendo lentamente dissecada. Mergulhada em uma xícara de café forte e com pouco açúcar. O olhar perdido no infinito, alheio ao sabor que impregnava seus lábios, lambendo a língua e surfando pela garganta abaixo. Estava se engolindo sem se dar conta do sabor!
Eram muito estreitos esses momentos para que pudesse definir o que sua alma transpirava.
Perdera as contas de quantas vezes ficava assim, submersa nesse mar de nuvens avermelhadas. Seu paraíso e por mais que pisasse firme nas calças da vida, sua alma sempre estaria de asas abertas, entregue ao vendaval do destino.
Cerra a cortina dos olhos, é hora do dia descansar.

...Baforadas de Tarde...


Retalhava com os olhos as bordas da alma do vento...
A folhagem indefesa ia sendo arremessada como um tapete sobre a calçada...
Tudo lhe parecia tão familiar!
Que até mesmo o beijo do sol em baforadas de tarde em seus cabelos não a despertavam...
Andava como se flutuassem em passos trôpegos compactando o passado em desalinho...
Ao longe um pássaro trinava uma sinfonia com acordes repetitivamente belos...
Decerto, tudo convidava ao flerte com o amanha...
Mesmo que a jornada sempre a levassem para um ontem sem fim...

1.6.12

...Interlúdio...


Estanquei o sangue que vertia dos olhos...
Agora são duas nuvens salpicadas pelas estrelas de marte...
Assoei o nariz e joguei fora o lenço...
A paz se instalou em mim, não mais precisarei de bandeiras...
Deitei as armaduras, sacudi a lama no riacho...
Uma desculpa a mais para mergulhar meus pés na água fresca...
Mudei o figurino, o corte de cabelo e o sorriso...
Guardei as jóias na caixinha de sândalo...
Pendurei o vestido de verão no último cabide do armário...
E junto com ele, todas as minhas esperanças de que um dia, eu possa usá-los novamente contigo!