31.1.15

Conto de Fadas

Os vãos da cidade manipulam gemidos. Imitam bocas com sorrisos tortos; estranhas, coladas umas as outras, parecem escarnecer de toda ingenuidade. Tropeço em contos de fadas que não coincidem com os meus e a cada vez que me detenho contemplando o céu, brotam narcisos ao meu redor. E como lagunas entorpecidas me cortando ao meio como um espelho, minha imagem num oásis fazendo parte desta legião, sorrindo, escarnecendo, no ritmo da dança da chuva à espera do milagre:
Girinos na lama seca dormitando até o juízo final...

[sob o pseudônimo Lápis sem Ponta]

18.1.15

SENTIMENTOS MEUS



...meu coração ancião 

tem uma vida amena...
guardado no peito
alimentando-se de café e solidão
batuca suave nos dias mornos
ensaia um pagode nos encontros de afeto...
...mas ainda
na dobra da esquina 
se reconhece
se embriaga
cheiro antigo
de maresia e flor
salta em festa nos degraus da garganta
quanto esforço para exilá-lo de novo!